ASSASSINATO DE TRAVESTI EM CAMPINA GRANDE

O crime bárbaro e hediondo que ocorreu em Campina Grande no dia 15 de abril último, no interior da Paraíba, revela a que ponto chegou a desvalorização da vida humana. Por pouco, muito pouco, um ser humano é submetido a uma violência extrema, com mais de trinta facadas. Mesmo depois de morto, o assassino continuou a golpear o corpo da vítima. A informação fornecida pela imprensa é de que foi um acerto de contas porque o travesti teria deixado de pagar um programa no valor de R$ 800,00. Agora, aquela rua de Campina Grande fica manchada pelo sangue de mais uma vida humana que, se errou, deveria ter sido julgada pela justiça constituída. Ainda que a mancha física seja lavada, a mancha moral continua visível não só pelo vídeo gravado, mas pela brutalidade que fica na memória daqueles que assistiram ao assassinato.
Foi levantada a questão se teria sido crime homofóbico, que infelizmente torna-se cada vez mais comum nas cidades brasileiras. Alguns acreditam que sim, apesar dos próprios relatos dos envolvidos indicando outra causa. Num momento em que as lutas pelos direitos sexuais se acirram, todo evento relacionado a gays ou travestis chama a atenção. Aumenta cada vez mais um clima de ódio, até mesmo quando um parlamentar gay declara guerra àqueles que se opõem ao homossexualismo.
Um dos aspectos tristes de toda essa situação é o fato de muitos caracterizarem como homofóbicos os cidadãos que julgam ser o homossexualismo um opção moral errônea ou que não concordam com uma lei que privilegia LGBTs em detrimento de uma parcela significativa da população que reivindica o direito de não concordar. Estes terminam por ser acusados de serem homofóbicos e são colocados na mesma categoria daqueles que matam por razões homofóbicas. Esse tipo de julgamento é descabido e injusto, pois não faz as distinções necessárias entre discordância e ódio, terminando por promover o ódio contra aqueles que desejam preservar o direito constitucional da liberdade de expressão. Se podemos discordar em tudo, por que não podemos discordar nesse assunto específico? Por que desejar colocar nos presídios pais de famílias que sentem-se na responsabilidade de ensinar aos seus filhos e filhas que eles não precisam ser forçados a crer em nada?
Lamentamos profundamente pela morte de um ser humano que optou por ganhar a vida prostituindo seu corpo. Lamentamos pelos familiares e amigos que assistiram em rede nacional tamanha violência cometida contra alguém que lhes era tão próximo. E lamentamos também os oportunistas que, em nome de uma causa, são capazes de acirrar o ódio quando deveriam promover a compreensão e a compaixão. O ódio sempre matará, seja no coração de alguém que se diz religioso, seja no coração de alguém que se diz livre para seguir sua opção sexual.

Jorge Issao Noda

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